domingo, 19 de outubro de 2008

Lendo e pensando com o Prof. Moran




É bastante pertinente a reflexão proposta pelo Prof. José Manoel Moran (ECA/USP) em seu texto "Educação afetiva ou controladora? Foco no conteúdo ou em valores?". Confesso que iniciei a leitura com alto grau desconfiança, visto que, como adepto da "Pedagogia Crítica Social dos Conteúdos" tenho uma aversão nata a textos, teorias e autores que defendem a demasiada secundarização dos conteúdos em nome da educação para a sensibilidade, afetividade, criatividade e coisas assim. Sou do tipo que acredita, e às vezes isso me custa muito, que a escola é, sobretudo, espaço do conteúdo, pois não há, em nossa sociedade, outra instituição que se responsabilize por isso.
O texto em questão, contudo, apresenta reflexões sérias, consistentes e coerentes a respeito do tema proposto e conquistou minha adesão sobretudo por algumas afirmações como:
  • "(...) o educador ajuda muito o aluno se ensina o que pratica, se ele se mostra como é, como uma pessoa em desenvolvimento, com contradições, mas que procura ser coerente entre o que pensa e faz."
  • "um mundo de tanto faz de conta, de tantas aparências e de tantas mentiras, educar dentro da verdade e da coerência já é uma grande inovação."
Parece que o Prof. Moran com sua perspicácia e sabedoria (já tive a oportunidade de ouvi-lo pessoalmente e isso me dá condições de utilizar com maior segurança esses adjetivos) advinhou o ponto exato que me incomoda nos discursos sobre educação para a afetividade, sensibilidade e coisas assim: essas coisas não se ensinam, praticam-se. Para que "perder tempo" da aula, com longos discursos sobre amor, solidariedade, fraternidade ou com enfadonhas e adocicadas dinâmicas se, naquela mesma aula, quando "retorna" ao conteúdo ou quando a aula termina não pratica esses valores no tratamento com esses mesmos alunos, com as outras turmas, com os funcionários da escola ou com seus colegas de docência?
É possível educar para a sensibilidade, para os valores, mas isso é menos uma questão de retórica e acima de tudo, uma questão coerência entre o ser, o dizer e o fazer.

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